Pace layered: como gerenciar projetos de inovação tecnológica

Pace layered é uma metodologia criada pela consultoria Gartner para categorizar, selecionar, gerenciar e orientar esquemas de governança como forma de apoiar inovações e mudanças tecnológicas nas empresas.  

Esse conceito não é uma novidade no mercado de tecnologia, entretanto a sua concepção surgiu de um problema que está longe de ser resolvido, afinal, ainda existem tensões causadas por descompassos entre a área de negócios e a de TI.  

Normalmente, isso acontece porque essas duas áreas são orientadas por estratégias diferentes. De acordo com esse artigo da Deloitte, a área de negócios precisa de mais adaptação, procurando por sistemas mais flexíveis e que consigam se adequar às mudanças necessárias no mercado; enquanto isso, a área de TI procura manter os sistemas consistentes e seguros.  

Esse cenário também foi reforçado por Yvonne Genovese, vice-presidente executiva da Gartner em entrevista ao Portal CIO. “Líderes de negócios querem aplicações modernas, fáceis de usar, que podem ser implantadas rapidamente para resolver um problema específico ou responder a uma oportunidade de marketing. A estrutura de TI tipicamente trabalha com foco estratégico em padronização de um conjunto limitado de suites de aplicativos para resolver vários problemas de forma a minimizar riscos de integração, maximizar a segurança e reduzir custos de TI. As metas conflitantes fatalmente levam a um desalinhamento estratégico”, comenta Yvonne.  

Pensando nisso, é importante encontrar um ponto de equilíbrio entre esses dois cenários, para que haja espaço para a inovação, mantendo a segurança de dados, processos e manutenção dos sistemas existentes. Uma pesquisa realizada pela Consultoria Palas, mostrou que 70% das empresas tem consciência da importância de inovar, entretanto apenas 55% possuem um departamento de inovação e 30% não realizam nenhum investimento nessa área.  

Portanto, como inovar, equilibrando a área de TI com a de negócios? É aí que entra o pace layered, que é assunto principal deste post, no qual vamos falar sobre:  

Classificação de ideias: como segmentar corretamente? 

“Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, essa icônica frase do cineasta brasileiro Glauber Rocha pode ser aplicada ao desenvolvimento de software no sentido de que tudo começa com uma ideia. É a partir dela que se inicia o desenvolvimento de um projeto ou se cria uma forma de aplacar a necessidade de um departamento, por exemplo.  

Para a Gartner, existem 3 tipos de ideias: as comuns, as diferentes e as novas. Abaixo nós vamos explicar melhor cada uma delas, mas é preciso ter em mente que esses conceitos vão ser fundamentais para realizar a categorização de projetos de acordo com o pace layered.   

Ideias comuns: contemplam aspectos do negócio no qual não há problemas em seguir formas mais tradicionais e amplamente aplicadas no mercado. Até mesmo porque, normalmente, elas precisam atender a uma série de diretrizes regulamentárias. Entretanto, nos casos em que há necessidade de vencer um concorrente em um aspecto particular do negócio, por exemplo, a melhor forma de fazer isso seria melhorando a performance de execução e não necessariamente criando uma nova maneira de execução.  

Ideias diferentes: nesse setor, os líderes não somente querem fazer as coisas de forma diferente – quando comparadas às outras organizações – mas também querem especificar alguns detalhes e conseguir visualizar diferentes abordagens. A expectativa é que seja possível ajustar variáveis e detalhes de forma recorrente.  

Ideias novas: essas ideias correspondem a aspectos do negócio no qual os líderes estão nos estágios iniciais, pensando no conceito, então ainda não é possível especificar muitos detalhes sobre como os produtos deveriam ser. O que se espera nesse momento são mock-ups ou provas-conceito, que possam ser testadas de forma rápida e a partir das informações obtidas nesses testes especificar melhor o conceito, ou até mesmo decidir se a ideia inicial vale a pena ser perseguida ou não.  

É por meio desses conceitos que as organizações podem se guiar para definir o que é importante, o que precisa de mais experimentação e como elas se encaixam em cada camada do pace layred.  

>>Leitura recomendada: Qual é o momento certo para sua empresa inovar com um software personalizado? Descubra! 

Pace layered: o que cada camada significa? 

Ao realizar uma tradução ao pé da letra pace layered significa “ritmo em camada”. A princípio, isso parece não se conectar muito com o desenvolvimento de software, porém isso significa que essas camadas definidas pela Gartner vão orientar o ritmo no qual as ideias da sua organização serão colocadas em prática. Como você já viu no tópico acima as definições para cada tipo de ideia, vai ficar mais simples de encaixá-las nas camadas.  

Assim como as ideias, há 3 camadas no pace layered. São elas: systems of record, systems of differentiation e systems of innovation.  

Systems of Record: geralmente relacionados a aplicativos ou sistemas legados internos que funcionam como banco de dados ou suportam o processamento de transações, gerenciado dados críticos das organizações, ou seja, fundamentais para o funcionamento da empresa. Nessa camada, a taxa de mudança é baixa, porque esses processos são normalmente os mesmos em todas as empresas e seguem regulamentações externas, como por exemplo a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) para o uso e armazenamento de dados. Além disso, como eles estão relacionados ao core business – e isso é algo que não muda com frequência, as mudanças acontecem mais devagar.  

Systems of Differentiation: nesse camada, as aplicações geralmente são focadas em um único processo, que é específico da empresa. O seu ciclo de vida costuma ser médio, entretanto é necessário fazer ajustes, adicionar novas funcionalidades e fazer novas configurações para se adequar às mudanças estratégicas ou de mercado e exigências de clientes. Portanto, os sistemas utilizados aqui correspondem aos processos que tornam as empresas únicas, e assim, elas acabam mudando em uma velocidade um pouco maior do que a camada anterior, para se adaptar e incorporar novas tecnologias.  

Systems of Innovation: lugar no qual são construídas novas aplicações/softwares, com o objetivo de conquistar oportunidades únicas ou cumprir novos requisitos estratégicos do negócio. Para desenvolver esses projetos, é possível usar os recursos de um departamento de inovação ou mesmo de uma outsourcing de TI. Essa é a camada que se movimenta com mais rapidez e onde é possível realizar mais experimentações.  

Na imagem abaixo você confere um esquema que relaciona os conceitos das camadas com a velocidade de mudança que cada uma delas exige:  

Pace layered diagrama

Fonte: Deloitte 

Com esses conceitos em mente, fica fácil de relacionar os tipos de ideias com suas respectivas camadas. Assim, as ideias comuns pertencem a camada systems of record; as ideias diferentes a camada de systems of differentiation e, claro, as ideias novas devem ficar na camada de systems of innovation. 

De acordo com Yvonne Genovese, vice-presidente executiva da Gartner em entrevista ao Portal CIO, as empresas estão acostumadas a usar a usar acrônimos de três letras para identificar categorias de aplicações (como ERP e CRM) mas, ao classificar as aplicações por camadas, elas precisam ser quebradas em processos individuais ou funções. Por exemplo, contabilidade, finanças, pedidos de compras e planejamento de demanda geralmente são parte de um único pacote de ERP, mas são módulos separados de aplicações que pertencem a três diferentes camadas na estratégia “Pace-Layered Application”. 

Por mais que essas camadas tenham características bem definidas, isso não significa que não é necessário construir algum nível de integração entre elas. Como destaca esse artigo da Deloitte, em algum momento os programas dessas camadas vão precisar se comunicar com outros e para isso é necessário disponibilizar, seja por meio de APIs ou outras estruturas tecnológicas formas de estabelecer essa conexão.   

>>Leitura recomendada: Como adotar a metodologia ágil com sucesso na sua empresa 

3 conceitos fundamentais do pace layered 

De acordo com a Gartner, o pace layered depende de 3 coisas para fazer o sistema funcionar: segmentar bem o que pertence a cada camada, garantir que haverá um nível de conectividade entre elas e ter um bom sistema de governança.  

Esses 3 itens são importantes porque, o desalinhamento estratégico entre os times de TI e o de negócios, faz com que a busca por aplicativos modernos, com boa usabilidade e implementação ágil acabem competindo de forma negativa com a necessidade de minimizar problemas causados por integrações, aumentar a segurança e melhorar o custo-benefício de aplicações ou sistemas.  

Isso acaba causando alguns conflitos entre essas áreas, por conta da expectativa de agilidade criada pela área de negócios, que nem sempre pode ser correspondida pela área de TI, por conta dos processos de desenvolvimento e segurança que precisam ser seguidos.  

A ideia é que esses dois setores pudessem encontrar o equilíbrio tendo em vista que, no mundo VUCA (no qual características de Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade fazem parte de grande parte das situações nas quais vivemos), a agilidade impacta diretamente no potencial competitivo da organização e não dá para ficar refém da proatividade da área de tecnologia. Por outro lado, o desenvolvimento de softwares e aplicações é muito complexo, dependendo de uma grande quantidade de variáveis e expertise técnica para ser criado. Ou seja, uma área reclamar da outra não vai trazer a solução necessária e é aí que entra a governança.  

Uma cultura de governança deve encorajar a participação constante e persistente de todos. Isso quer dizer que a governança não pode ser vista como sendo a TI dizendo aos líderes de negócio o que precisa receber investimentos. Em vez disso, deve existir uma parceria real, que inclui respeito entre as partes. 

Uma boa governança de TI  na camada de systems of record, assegura que os sistemas base da organização estejam funcionando no dia a dia, oferecendo suporte para essas operações. Já nas camadas de differentiation e de innovation, isso pode variar um pouco, porque depende dos processos, da forma de gerenciar esses projetos, do tipo de arquitetura utilizada e das metodologias aplicadas.  

>>Leitura recomendada: O papel e os impactos da tecnologia na cultura organizacional

Como o pace layered auxilia na tomada de decisões?

O pace layered é uma ferramenta que pode ser muito útil no processo de tomada de decisão, justamente porque ele permite uma análise integrada do contexto, de forma que as áreas de tecnologia e de negócio possam entender o que está acontecendo e, assim, fazer a melhor escolha.

Isso significa que o processo de sensemaking, que nada mais é do que “fazer entender, criar sentido ou dar significado”, também pode ser beneficiado desse cenário, já que assim é possível considerar todos os elementos para compreender um determinado contexto, seguindo, pelo menos, 3 fase fundamentais:

  1. Exploração do ambiente;
  2. Contextualização do sistema;
  3. Aprendizado e atuação sobre o sistema.

Atualmente, com o mundo se transforma em uma velocidade ímpar e, especialmente, se considerarmos os impactos da pandemia do novo coronavírus e a quantidade de mudanças que ela acabou gerando ou acelerando nos últimos 2 anos, fica claro que a capacidade de tomada de decisão ágil é cada vez mais necessária.

Isso porque, o business agility, que se refere a capacidade de adaptação rápida as evoluções e inovações do mercado são fundamentais para manter ou criar vantagens competitivas.

Inovação e transformação digital nas empresas 

Agora que você já sabe como o pace layered funciona, fica mais fácil apresentar os benefícios desse modelo. Além de tornar o relacionamento entre a área de TI e a de negócios mais harmônico, ela também é uma forma de enxergar o quanto a sua empresa está investindo em inovação.  

transformação digital já não é uma novidade nas empresas, entretanto, por conta da pandemia do novo coronavírus, a necessidade por tecnologia acabou acelerando de forma inesperada algumas tendências da área, especialmente do ponto de vista dos processos e aplicações que impactam diretamente o consumidor. Isso significa que aderir à transformação digital deixou de ser um diferencial competitivo para se tornar uma tarefa diária.  

Uma pesquisa realizada pela consultoria Twilio, com mais de 2500 executivos C-level, revelou que 43% dos entrevistados acredita que a pandemia acelerou as transformações digitais e inovações entre um e quatro anos, para 27% a aceleração foi de cinco a nove anos, enquanto que para 23% dos entrevistados a percepção dos ganhos em inovação foram superiores a 10 anos!  

Porém, como vimos na distribuição das camadas do pace layered uma empresa não depende apenas de inovação para funcionar, afinal existem os sistemas legados que armazenam os dados fundamentais da organização, além daqueles utilizados para fazer as operações rodarem no dia a dia.  

Portanto, o pace layered permite que seja criado de forma oficial um espaço de inovação dentro das organizações, no qual uma equipe específica pode trabalhar nesses projetos, inclusive, com a possibilidade de contar com o apoio das outsourcings de TI, que podem contribuir com experiência e conhecimentos específicos, ajudando até mesmo a melhorar as taxas de erro, que são naturais de qualquer processo de inovação.  

>>Leitura recomendada: Como a aceleração digital te ajuda a superar os desafios da mudança

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