Inovação aberta ou open innovation é um conceito criado pelo pesquisador e professor Henry Chesbrough, definido como “um processo distribuído de inovação que envolve a gestão proposital do fluxo de conhecimento além das fronteiras da organização”. Isso significa que por meio da colaboração com outros times e organizações é possível acelerar os processos de inovação.
Por conta de seu histórico como professor universitário, Chesbrough sentia que existia uma grande lacuna entre a academia e os negócios (ou entre a teoria e a prática). Em artigo para o portal da revista Forbes, ele afirma que, independentemente do tamanho da infraestrutura ou da competência dos colaboradores da empresa, é mais difícil inovar sozinho. Por isso, a inovação aberta seria uma forma mais distribuída, descentralizada e participativa de criar.
Optar pelo modelo de inovação aberta pode ser mais rentável para as empresas porque reduz o custo, acelera o time to market, aumenta os seus diferenciais e cria novos canais de receita.
Para se ter uma ideia, um estudo realizado por um grupo de pesquisadores do MIT Sloan e da Universidade de Stanford (EUA), constatou que está cada vez mais difícil – e mais caro – ter novas ideias. Isso se deve a várias razões, entre elas, o fato de os pesquisadores precisarem se esforçar cada vez mais para manter o mesmo ritmo de inovação do século passado. Entretanto, como aponta um dos professores do MIT, Van Reenen, há muito mais informação espalhada no mundo que precisa se transformar em conhecimento, além de que leva mais tempo para que os pesquisadores atinjam um nível de maturidade de educação para realizar novas descobertas.
Pensando nisso, a perspectiva de desenvolver projetos em colaboração se torna cada vez mais atraente. Entretanto, mesmo com esses benefícios, ainda existe algumas empresas resistentes a esse modelo, seja por receio em compartilhar informações que são consideradas estratégicas ou para evitar disputas pela propriedade intelectual do que vier a ser desenvolvido. Entretanto, a pandemia do novo coronavírus acabou fomentando essas parcerias de inovação aberta, justamente porque havia a ideia muito clara de que havia um “inimigo em comum” a ser combatido.
Portanto, essas experiências recentes que trouxeram bons resultados jogam um nova perspectiva para a inovação aberta, especialmente agora que estamos acompanhando as transformações do mercado financeiro com o Open Banking e futuramente com o Open Insurance e o Open Finance.
Para saber mais sobre inovação aberta, conferir alguns exemplos de aplicação e como ela pode impactar esses novos ecossistemas integrados é só continuar acompanhando esse post!
- O que é inovação aberta?
- Por que investir na inovação aberta?
- Exemplos do inovação aberta
- Open insurance: inovação do mercado segurador
O que é inovação aberta?
Henry Chesbrough idealizador do conceito de inovação aberta e autor do livro “Open Innovation: The New Imperative for Creating And Profiting From Technology” foge dos conceitos tradicionais de inovação dentro das empresas, que pregam que se deve fazer tudo dentro de quatro paredes para criar suas vantagens competitivas. Ele também esclarece que o open innovation não tem nada a ver com softwares open source, gestão da cadeia de suprimentos ou inovação por usuário. Afinal, existem vários fatores que interferem no modelo de inovação aberta que pode ser adotado pela sua organização.
Um deles, é justamente o modelo de negócio, que auxilia na hora de buscar por parceiros, justamente porque a intenção é encontrar ideias e tecnologias que vão se encaixar no seu negócio e fazer com que aquilo que não se encaixa no seu negócio vá para outras organizações. Isso significa que em vez de descartar ideias de inovação, você as compartilha com o mercado, como outras empresas também farão isso, eventualmente, alguma novidade poderá ser útil ao seu negócio, criando um ecossistema no qual todos podem se beneficiar.
De acordo com artigo da Harvard Business Review, escrito por Linus Dahlander professor da ESMT Berlin e Martin Wallin professor da Chalmers University of Technology, a teoria e a prática da inovação aberta acabam sendo um pouco diferentes. Isso porque, quando apresentados a esse conceito muitos líderes pensam “a minha empresa precisa disso”. Entretanto, a realidade mostra que muitas ideias acabam não sendo implementadas, o que aumenta a frustração dos participantes e acaba desmotivando o surgimento de outras iniciativas.
Dessa forma, todo o potencial da inovação aberta de fomentar espaços para a criação e geração de valor, seja por parcerias com habilidades complementares ou desbloqueando o potencial dos envolvidos acaba se perdendo. Em períodos de crise, como foi a pandemia do novo coronavírus, esse modelo pode ajudar as organizações a resolver problemas de novas formas, fortalecendo parcerias de confiança.
Por isso, abaixo vamos listar alguns itens que são fundamentais para criar ambientes de inovação aberta nas empresas:
Foco na geração de valor
Como já comentamos, existe uma certa preocupação em relação a propriedade intelectual do que é desenvolvido nos projetos de inovação aberta. Entretanto, durante a pandemia ficou claro que o foco dessas iniciativas deveria estar na geração de valor.
É claro que a discussão acerca da propriedade intelectual é importante e não deve ser eliminada do processo, mas ela não deveria ser um grande impeditivo para a inovação.
Motivação
Grande parte dos projetos em que não há motivação podem perder relevância ou até não atingir o resultado esperado. Pensando em projetos de open innovation, que funcionam em um esquema de parceria, é importante ter em mente que meios tradicionais de comando e controle terão pouca efetividade.
Nesse caso, as empresas precisam variar os incentivos oferecidos nos projetos, para que eles sejam tanto internos quanto externos, de forma que seja possível encontrar um denominador comum de motivação para colaboradores e parceiros.
Por exemplo, alguns desenvolvedores são motivados a compartilhar o código desenvolvido no mercado, outros são orientados por preocupações éticas, priorizando a segurança, assim como há empresas que procuram por esquemas de inovação aberta para ter acesso a conhecimento e habilidades complementares. Alinhar todas essas vontades para que as empresas alcancem os objetivos desejados exige muito esforço, empatia e curiosidade.
Além disso, de acordo com esse artigo da Forbes, uma das barreiras que impede o sucesso da inovação aberta é a síndrome do “isso não foi inventado aqui” ou uma atitude negativa em relação a ideias externas. Para combater essa resistência, os líderes precisam associar a estratégia interna, análise de performance e motivação, de forma que os colaboradores se sintam incentivados pelo atingimento das metas, engajando em atividades e promovam uma cultura organizacional de colaboração e de inovação aberta.
Transformação estratégica
Normalmente, os projetos de inovação aberta são apenas a ponta do iceberg, por assim dizer. Mas porque isso? A realidade é que o sucesso desses projetos normalmente causam uma mudança estrutural e operacional que transforma a maneira com a qual alguns processos internos são feitos. Ou seja, muitos desses projetos tem esse potencial de transformação que precisa ser acompanhado por outros setores da empresa.
Por isso, é importante explorar bem esse potencial, assim como escolher os parceiros que possam auxiliar esse movimento, de forma a criar projetos estratégicos que proporcionem o fortalecimento de laços entre os participantes.
Parceria
Mapear de forma efetiva a jornada de compra do consumidor é um dos passos mais essenciais para desenhar estratégias de sucesso. Isso significa que ficar de olho nas tendências de comportamento é fundamental para escolher os parceiros adequados.
A pandemia do novo coronavírus impactou de diversas formas a sociedade, inclusive o comportamento de consumo. Por isso, como apontado pelo artigo da Harvard Businesses Review que já mencionamos, é importante repensar essas jornadas considerando as mudanças desse cenário, para potencializar o sucesso dos projetos de inovação aberta.
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Por que investir na inovação aberta?
Em um contexto de transformação digital, as empresas precisam reconhecer suas limitações. Afinal, por mais poderosa que sua companhia seja, nem todos os melhores talentos do mercado trabalham para você.
Manter as informações confinadas dentro das empresas, faz com que os principais benefícios trazidos pela inovação aberta, como ampliação do quadro de habilidades, conhecimento e oportunidades fique reduzido. Isso significa que por mais que você explore ao máximo o potencial dos seus colaboradores, os resultados de um projeto de inovação aberta seriam muito diferentes. Isso não significa que o que é desenvolvido internamente é ruim, apenas que insights e conhecimentos externos podem colaborar para melhorar os resultados obtidos.
Além disso, a inovação aberta pode ajudar a reduzir custos — uma vez que o risco da inovação vem de fora. Se o produto ou serviço inovador não der certo, você simplesmente não compra. Por outro lado, se você tentar criar tudo internamente e aquilo não funcionar, você já investiu seus recursos naquela tentativa de inovar.
Com um custo menor e menos riscos para inovar, o resultado acaba sendo o investimento em produtos realmente inovadores — e não apenas em inovações incrementais. Dessa forma, as chances de uma empresa que investe em inovação aberta alcançar novos diferenciais competitivos é maior.
Por fim, a inovação aberta permite troca de conhecimento entre seus funcionários e seus parceiros. Dessa forma, não só os colaboradores se sentem mais motivados, como também se tornam mais eficientes e completos ao adquirir mais perspectivas e conhecer novas formas de resolver os problemas.
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Exemplos de inovação aberta
Como o conceito de colaborar em rede é amplo e envolve diferentes modelos de negócio, há várias formas de trabalhar com inovação aberta — cada uma delas dialogando com as especificidades dos mercados e das empresas. No entanto, há algumas formas que são mais comuns nos esforços de abraçar a inovação aberta, em especial no Brasil. Conheça alguns:
Corporate venture
Neste modelo, grandes corporações investem em startups menores, que trabalham desenvolvendo projetos que serão utilizados no futuro por essas corporações. Essa é uma forma de a empresa incentivar a inovação de forma saudável, já que ela não precisa dar conta de resolver todos os problemas de forma interna. No Brasil, há alguns exemplos como a Vivo, com a Wayra investindo em startups; ou a Porto Seguro, com a aceleradora Oxigênio.
Working space
Esse também é um modelo de inovação aberta financiado por grandes corporações. Porém, nesse caso, as empresas oferecem um espaço físico, com toda a infraestrutura necessária para startups operarem. Dessa forma, elas também incentivam inovações e soluções que, no futuro, possam ser utilizadas por ela. No Brasil, alguns exemplos desse tipo de incentivo são o Cubo, do Itaú; o Inovabra, do Bradesco; e o Google Campus.
Eventos
Essa é uma forma mais barata e pontual de incentivar a inovação, porém muito eficiente. Ao promover eventos, congressos ou até mesmo hackathons, as empresas permitem que inovadores se conectem, de modo a proporcionar networking e troca de ideias, que podem gerar projetos no futuro.
Cocriação
Neste modelo, a empresa chama clientes, fornecedores e diversos agentes de mercado para trabalharem, literalmente, juntos. É comum, nesses casos, que todos os envolvidos trabalhem dentro da empresa dando ideias e trazendo diferentes pontos de vista até chegar no produto final.
A OPUS, por exemplo, também trabalha com seus clientes em um modelo de cocriação! Isso porque, cada projeto de software personalizado, conta com a experiência e conhecimento dos clientes e de nossos colaboradores, alinhando tecnologia e estratégia de negócio.
APIs abertas
Por fim, o modelo mais comum no mercado de tecnologia. As APIs abertas são um modelo no qual outras empresas podem se conectar a sua tecnologia e integrá-la a seus sistemas. Nesse modelo, as inovações são compartilhadas diretamente pelos códigos, criando um ecossistema de software aberto a todos e que, consequentemente, amplia as possibilidades de inovação.
Atualmente, um exemplo disso é o próprio Open Banking Brasil, cuja tendência de evolução é o Open Finance, um ecossistema integrado no qual será possível ter acesso aos dados compartilhados pelos clientes, de forma a proporcionar a criação de novos produtos e modelos de negócio. Lembrando que o Open Banking ainda está em fase de implementação e que os dados são compartilhados apenas com a autorização do cliente.
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Open insurance: inovação aberta do mercado segurador
O open insurance é uma iniciativa que tem como objetivo tornar o mercado de seguros mais competitivo, fazendo com que os produtos oferecidos pelo setor sejam mais populares e acessíveis, melhorando também a jornada de compra do cliente. Ele faz parte de uma estratégia de inovação aberta, que reúne empresas do segmento e outras que estejam interessadas em criar novos produtos e serviços.
O funcionamento do open insurance é bem similar ao do open banking. A ideia é permitir que os clientes possam autorizar, de forma segura, o compartilhamento de seus dados, para, a partir daí obter melhores serviços e fomentar a criação de novos modelos de negócio.
A inclusão da área de seguros nesse ecossistema já estava prevista na implementação do open banking, justamente porque o objetivo é formar o open finance, que é justamente esse ambiente integrado que possa incluir cada vez mais setores além do bancário e o de seguros, como por exemplo o de investimentos, de saúde, energia, entre outros.
O fato é que essa iniciativa foi elaborada tendo como um dos pilares principais a inovação aberta, partindo do princípio de que há muitas empresas, especialmente da área de tecnologia que podem contribuir para a criação de aplicativos e novos modelos de negócio, que tornem os produtos de seguro mais acessíveis e populares, aumentando também a competitividade no mercado.
A Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), que é a responsável pela regulamentação do open insurance no Brasil já determinou um cronograma de implementação que está previso para iniciar em dezembro de 2021.