Assim como os novos modelos de negócio no Open Banking, devem se fortalecer os novos modelos de negócios com o Iniciador de Transação de Pagamento, com o avanço da implementação do Open Finance.
Neste ano, o Banco Central definiu que agora essa iniciativa se chama Open Finance, substituindo o Open Banking. A mudança, que é apenas nominal, facilita o entendimento do público e reforça a ideia de sistema financeiro aberto, justamente porque o Open Finance inclui produtos bancários tradicionais e também serviços financeiros como câmbio, seguros e previdência.
Há duas figuras que protagonizam o oferecimento de serviços de pagamento dentro do Open Finance, as detentoras de conta, ou seja, as Instituições Financeiras, e o Iniciador de Transação de Pagamento (ITP).
Realizar pagamentos está no dia a dia de todos, desde fazer uma compra no mercado a pagar uma parcela da casa própria, nos deparamos constantemente com boletos, cartões e carteiras digitais. O iniciador de transação de pagamento é um serviço que permitirá iniciar uma transação de pagamento comandada por uma instituição não detentora de conta. Ou seja, mais uma além das modalidades de pagamento que já conhecemos.
“O processo de pagamento no Open Finance é desenhado de tal modo que um ITP possa movimentar valores que estão em qualquer detentora de conta do mercado. Isso é uma novidade muito relevante: hoje, alguém que queira fazer um Pix ou uma TED dos recursos que estão no Banco X, por exemplo, tem que acessar um canal (um app mobile, por exemplo), do próprio Banco X, para realizar tal pagamento”, explica o nosso Head of Business Development, Marcelo Feltrin, em artigo para Finsiders.
A experiência do usuário está cada vez mais diferente, ele busca simplicidade no momento de lidar com suas finanças, inclusive para realizar pagamentos. A figura do ITP, criada pelo Banco Central juntamente com o plano de implementação do Open Banking Brasil, que deve ser finalizado em 2022, permite tornar essas transações mais rápidas e fáceis, além de criar novos modelos de negócio e, consequentemente, oportunidades de inovação disruptiva.
O iniciador de pagamentos é responsável por enviar o comando do cliente pagador, mesmo sem ser o detentor da conta dele. O pagamento cairá na conta do recebedor, sem qualquer intermediário, como boletos bancários. É importante salientar que o ITP não gerencia ou movimenta recursos da conta.
Se você é uma instituição financeira ou de pagamento, também pode atuar como ITP, adaptando-se às regulações exigidas pelo Banco Central. Os ITPs têm despertado muito interesse e as empresas estão se preparando. Quer conhecer os benefícios e as perspectivas de novos modelos de negócio com o Iniciador de Transação de Pagamento? Continue a leitura deste artigo.
- Quais são os novos modelos de negócio relacionados com o Iniciador de Transação de Pagamento?
- Quais são os benefícios para as PMEs e varejistas?
- O que os modelos de negócio com o Iniciador de Transação de Pagamento e buy now pay later têm em comum?
- As bandeiras de cartão vão sobreviver ao ITP?
- Exemplos e aprendizados com o PISP
- Como se preparar para ser um iniciador de pagamentos?
- Há exigências da regulação para o Iniciador de Transação de Pagamento?
- Virei ITP, e agora?
Quais os novos modelos de negócio relacionados com o Iniciador de Transação de Pagamento?
O ITP traz benefícios tanto para as instituições financeiras quanto para o consumidor final. Além disso, essa nova figura abre portas para novos modelos de negócios, visando sempre as vantagens e a melhora da experiência do cliente. Para as empresas, há uma redução de custos com a administração de serviços de pagamento, por exemplo.
As instituições financeiras terão a oportunidade de possuir dados para a inovação e personalização dos seus serviços, insights para melhorar a experiência do consumidor e desempenhar estratégias de sucesso. É importante lembrar que os dados no Open Banking são compartilhados sob consentimento do cliente.
Alguns dos novos modelos de negócio relacionados com o ITP são:
- Novos bancos no mercado, com abordagem personalizada, focada no cliente. Suas plataformas bancárias e modelos de negócios são chamados de “API first” e operam mais como FinTechs do que bancos tradicionais;
- FinTechs especializadas em determinados produtos bancários, como os serviços de pagamento, por exemplo;
- Gigantes da tecnologia, como Meta, Apple e Google, interessados em obter acesso a APIs abertas para aprimorar a personalização dos seus serviços e fortalecer a marca. Algumas dessas empresas já iniciaram sua participação nos sistemas de pagamento, oferecendo aos seus clientes cartões de crédito e até meios de pagamento alternativo, como o pagamento via WhatsApp;
- Provedores de serviço de pagamento (PSP), como PayPal e Mercado Pago e redes de cartão de crédito terão maior concorrência e, consequentemente, deverão inovar nos serviços e métodos de pagamento oferecidos, diminuindo a taxa para os clientes e aumentando a personalização;
- Empresas do setor de serviços sem vínculo direto com o ramo financeiro podem expandir sua gama de atividades e oferecer os mesmos serviços, a fim de aumentar as suas receitas e monetizar mais assertivamente os dados dos clientes, como concessionárias e construtoras.
Quais são os benefícios para as PMEs e varejistas?
O Fluxo de Caixa de grande parte das pequenas e médias empresas estão entre contas da mesma empresa ou pessoa física. Assim como o Open Finance vai tornar mais transparente e centralizado o ato de mexer no dinheiro, os ITPs vão melhorar a experiência de transferências e pagamentos: é possível iniciar o pagamento em outra instituição e trazer o dinheiro para a instituição onde vai realizar o pagamento, de forma mais fluida.
Como o cliente não precisará abrir o app do banco ou da empresa que possui dinheiro em conta, “o serviço de iniciação de transação de pagamento no Pix busca facilitar ainda mais a realização de pagamentos e transferências com o Pix, aumentar a competição, fortalecer o uso do Pix nos casos que envolvam empresas e fomentar a inovação”, disse o Banco Central em nota.
Grande parte das oportunidades trazidas pelo Iniciador de Transação de Pagamento está visando o consumidor final e existem muitas razões para os comerciantes aderirem aos métodos de pagamento alternativos em suas ofertas: não há intermediários, o custo é muito baixo, o cliente poderá usar o saldo que possui em qualquer instituição e o pagamento chega de forma instantânea ao comerciante.
A taxa de conversão em e-commerce tende a crescer com a oferta de diversos meios de pagamento, pois significa menos abandonos de check-out, já que com diferentes opções ao lado dos cartões de crédito, o cliente pode escolher a mais adequada e não abandonar seu carrinho de compras.
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O que os modelos de negócio com o Iniciador de Transação de Pagamento e o buy now pay later têm em comum?
O buy now pay later é um produto de crédito para consumo. Há anos já utilizado no Brasil com o nome de crediário, o Banco Central exportou tal premissa e a iniciativa retornou com o nome de buy now pay later (Compre agora, pague depois). Esse serviço se conecta ao ITP a partir do momento que o iniciador de pagamentos vai prover um meio do dinheiro sair de uma empresa de crédito e chegar ao lojista, diante de uma aprovação de crédito.
Essa movimentação só é possível se, em uma das pontas dessa transação, houver empresas ofertando a opção de buy now pay later. Com o ITP, em vez de copiar o código QR ou realizar a leitura do mesmo, o cliente será automaticamente direcionado à tela de autenticação no aplicativo do seu banco e, após a transação, direcionado de volta para a loja virtual. Ou seja, o ITP vai dar o canal para a distribuição do crédito.
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As bandeiras de cartão vão sobreviver ao ITP?
O ITP permite que as instituições de pagamento ofereçam aos clientes mecanismos alternativos de pagamento diretamente vinculados à conta bancária, uma boa notícia aos fornecedores, pois poderão reduzir os custos das taxas atualmente cobradas pelas bandeiras de cartão e maquininhas, além de eliminar os riscos de transação e fraude e garantir a liberação dos fundos mais rapidamente.
Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços, Abecs, referentes ao primeiro trimestre de 2022, os pagamentos com cartões no Brasil cresceram 36%. Se levar em conta os pagamentos com cartão de crédito, houve uma alta de 42%, ou seja, o brasileiro ainda utiliza e confia muito nas bandeiras de cartão e, por isso, elas não serão eliminadas por conta do ITP.
As bandeiras terão de se adaptar, prover serviços complementares, diminuir as taxas aos comerciantes e, utilizando o seu conhecimento do mercado financeiro, adquirir novas opções e tecnologias. É possível que as bandeiras tragam soluções utilizando os ITPs, por exemplo.
Exemplos e aprendizados com o PISP
PISP ou Payment Initiation Service Providers é como é chamado o Iniciador de Transação de Pagamento no UK. Por ter sido implementado em 2018 e ter registrado mais de 5 milhões de usuários apenas em 2022, o Open Banking UK é uma referência para os processos do Open Banking no mundo.
Atualmente, o BACS é o método de pagamento mais utilizado no UK, responsável por mais de 6 bilhões de operações financeiras em 2021. Esse método permite enviar ou receber pagamentos eletronicamente de forma rápida e eficiente para uma conta bancária. Com o Open Banking, esse processo foi ainda mais simplificado, permitindo que os montantes financeiros, como os salários dos empregados, por exemplo, saiam da conta do empregador e paguem diretamente na conta bancária do funcionário, sem utilizar processos bancários.
Dan Weaver, especialista em Open Banking Equifax UK, em entrevista ao Raconteur Publishing, disse que é muito provável que o investimento em inovações continue sendo feito. Ele acredita que o acesso em tempo real a informações de contas bancárias e dados de pagamentos, poderá melhorar o processo de verificação de identidade, além de oferecer visualizações mais oportunas e precisas de casos complexos de acessibilidade em comparação com os métodos atuais, o que pode tornar os processos mais seguros, justos, rápidos e menos suscetíveis a fraudes.
O futuro dos pagamentos é brilhante e a palavra da vez é inovação. Os consumidores europeus estão cada vez mais reconhecendo o valor dos métodos de pagamento alternativos. Alguns desses meios seriam impraticáveis em um mercado sem o Open Banking e os PISPs, como no aplicativo Tikkie ou pelo próprio WhatsApp. Porém, junto com o potencial de inovação, é necessário dar atenção às medidas de cibersegurança, visando a proteção dos dados e do próprio sistema.
Como se preparar para ser um iniciador de pagamentos?
De acordo artigo da Infomoney, “toda empresa que hoje já é regulada pelo BC pode ser iniciador de pagamentos, se quiser. É a regulação mais simplificada que se tem hoje”. Um banco que já está inserido no Open Banking Brasil como Instituição Financeira pode se tornar um iniciador de transação de pagamentos, bem como uma empresa de tecnologia que ainda não é regulada, mas pode se adequar às exigências do Banco Central.
A figura do ITP foi pensada para tornar as movimentações mais ágeis e sem risco, de acordo com o Banco Central. Por conta desse baixo risco, o processo de autorização para atuação como ITP é diferente e mais rápido, seguindo a Lei de Liberdade Econômica. O papel do Banco Central nesta autorização é garantir a transparência na prestação do serviço; implementar políticas de segurança cibernética; prevenção à lavagem de dinheiro e induzir boas condutas no atendimento ao cliente.
As novas instituições de pagamento deverão apresentar planos de gerenciamento de risco, mostrando-se preparadas para os eventuais desafios decorrentes das operações. Bancos com carteira comercial, instituições financeiras e cooperativas singulares de crédito não precisam de autorização para exercer o papel de ITP.
Para ser um iniciador de pagamentos o principal objetivo é ser uma instituição segura, afinal de contas, ao estar inserido no ecossistema do Open Banking, os dados dos clientes, relacionados aos serviços de pagamento, estarão sob sua responsabilidade e seguir as diretrizes da Lei Geral de Proteção de Dados é fundamental. Os dados de clientes relacionados a seguros, operações de câmbio ou previdência não poderão ser compartilhados com as ITPs.
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Há exigências da regulação para o Iniciador de Transação de Pagamento?
A Lei dos Arranjos de Pagamento (Lei nº 12.865/2013) viabilizou a criação de um ambiente para a atuação de instituições de pagamento (que não são instituições financeiras), entre elas, o Iniciador de Transação de Pagamento, que possui o objetivo de modernizar, digitalizar e acirrar a competição por melhores serviços financeiros.
Assim como o Banco Central regulamentou e atualizou as regras do Pix, por meio da resolução BCB nº 118, nesta mesma regulação há regras para o pagamento instantâneo, ou seja, transações realizadas pelos ITPs.
Segundo a Resolução nº 80 do Banco Central, que disciplina a constituição e o funcionamento das instituições de pagamento, o Iniciador de Transação de Pagamento não poderá:
(i) armazenar dados relacionados com as credenciais dos usuários finais utilizadas para autenticar a transação de pagamento perante a instituição detentora da conta;
(ii) exigir do usuário final quaisquer outros dados além dos necessários para prestar o serviço de iniciação da transação de pagamento;
(iii) utilizar, armazenar ou acessar os dados para outra finalidade que não seja a prestação do serviço de iniciação de transação de pagamento expressamente solicitado pelo usuário final;
(iv) alterar o montante ou qualquer outro elemento da transação de pagamento autorizada pelo usuário final;
e (v) iniciar transação de pagamento envolvendo conta de pagamento mantida por instituição não integrante do Sistema de Pagamentos Brasileiro.
A alteração da Circular nº 3681, de 2013, foi aprovada em complemento à Resolução nº 80, a fim de dispor sobre o gerenciamento de riscos, ou seja, a estrutura deverá identificar, monitorar e controlar as falhas nas seguintes ocorrências: iniciação não autorizada; não execução de iniciação; execução incorreta e atraso na iniciação.
A inserção das instituições iniciadoras de pagamento no Open Banking Brasil estava prevista para ser realizada na fase 4 de implementação, iniciada em março de 2022.
Virei ITP, e agora?
Em matéria divulgada pela Agência Brasil, o Pix é colocado como a escolha ideal para ser o primeiro meio de pagamento integrado ao ITP, por conta da alta adesão. O sistema, que funciona 24 horas, detém 30% do total de transações bancárias no Brasil, ultrapassando as transações via DOC, TEC e boleto bancário, ou seja, o sistema de pagamentos instantâneo já caiu no gosto do brasileiro.
A partir do momento que sua empresa se torna um ITP, é preciso entender a essência dessa proposta, de agilizar e facilitar as transações para o consumidor final, sempre com segurança, seguindo as regulações do Banco Central, afinal, haverá retenção de dados. O Open Finance é extremamente positivo para novos entrantes, que podem investir também em big data, para dar o melhor uso aos valiosos dados que reúnem. Várias soluções, como a OPUS, facilitam entrar no Open Banking.
Agora que você já conhece as vantagens de ser um Iniciador de Transação de Pagamento, pode ingressar no ecossistema do Open Banking Brasil com agilidade e aproveitá-las!