Nos últimos anos, o modelo de negócio baseado na economia da atenção, onde empresas disputam o tempo e o engajamento dos consumidores, dominou a internet. Plataformas como Facebook, Instagram, TikTok e YouTube captam dados sobre os interesses e comportamentos dos usuários para direcionar anúncios e manter sua atenção pelo maior tempo possível. No entanto, essa lógica está evoluindo para algo ainda mais sofisticado: a economia da intenção.
Segundo pesquisadores do Leverhulme Centre for the Future of Intelligence (LCFI) de Cambridge, a economia da intenção representa um novo paradigma no qual empresas utilizam inteligência artificial (IA) para prever e até influenciar futuras ações dos consumidores, criando um mercado digital para sinais comercializáveis de intenção.
Large language models (LLMs) podem analisar não apenas o comportamento passado, mas também inferir desejos e preferências futuras, permitindo que marcas personalizem ofertas, recomendações e interações com uma precisão sem precedentes.
De acordo com pesquisa da 84.51º, marcas que aplicam IA e Machine Learning para personalizar seus anúncios registraram um retorno incremental sobre o investimento em publicidade 1,3 vezes maior,
Porém, se por um lado essa evolução abre oportunidades para melhorar a experiência do consumidor e otimizar processos empresariais, por outro, levanta preocupações éticas relacionadas à privacidade, transparência e manipulação de decisões.
Neste artigo, exploramos como as empresas podem aproveitar a economia da intenção de forma ética, transparente e eficaz, garantindo benefícios tanto para os negócios quanto para os consumidores.
- O que é a economia da intenção e como ela funciona
- Qual o papel da Inteligência Artificial na economia das intenções?
- Desafios éticos e de privacidade
- Como aplicar a economia da intenção?
O que é a economia da intenção e como ela funciona
A economia da intenção é um conceito recente que representa a evolução da economia da atenção. Ela cria um mercado digital para sinais comercializáveis de intenção, onde dados comportamentais e psicológicos são analisados para antecipar comportamentos futuros.
Isso é feito principalmente por meio de LLMs, que não apenas compreendem o comportamento passado, mas também são capazes de inferir desejos e motivações futuras com alta precisão.
Qual a diferença entre a economia da atenção e economia da intenção?
- Economia da Atenção: foca em captar o tempo e o engajamento do usuário em plataformas digitais, monetizando sua presença através de anúncios direcionados. É o modelo tradicional adotado por redes sociais como Facebook, Instagram e TikTok.
- Economia da Intenção: vai além da captura de atenção. Utiliza Inteligência Artificial para antecipar e influenciar intenções futuras, criando um ciclo de consumo proativo. Em vez de apenas reagir ao comportamento do usuário, as empresas podem moldar suas escolhas futuras de forma personalizada e persuasiva.
Como funciona a economia da intenção?
- Coleta de dados: a economia da intenção começa com a coleta de grandes volumes de dados, incluindo histórico de compras, interações online, preferências de conteúdo e até mesmo padrões de fala. Essas informações ajudam os LLMs a criar perfis detalhados de usuários.
- Análise preditiva: utilizando algoritmos de aprendizado de máquina, os LLMs analisam os dados coletados para prever as próximas ações dos consumidores, como compras, preferências de viagem ou escolhas de entretenimento.
- Influência e persuasão: com base nas previsões, as empresas podem influenciar decisões futuras através de recomendações personalizadas, anúncios direcionados e chatbots interativos. Essas sugestões são tão precisas que o consumidor muitas vezes não percebe a influência da IA em seu processo de decisão.
A economia da intenção não apenas identifica o que o usuário deseja agora, mas antecipa o que ele vai querer no futuro, possibilitando que as marcas estejam um passo à frente. No entanto, essa capacidade de previsão traz desafios éticos, como questões de privacidade, transparência e manipulação de escolhas, que serão abordados nas próximas seções.
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Qual o papel da Inteligência Artificial na economia das intenções?
As empresas podem aplicar IA para otimizar seus serviços e ofertas com base na economia da intenção. Algumas abordagens incluem:
1. Personalização avançada e engajamento do cliente
A era dos descontos genéricos está ficando para trás. Com a IA, as empresas podem oferecer promoções altamente segmentadas, analisando padrões de compra e comportamento dos clientes, segundo a McKinsey.
Ainda de acordo com a McKinsey, 65% dos consumidores consideram as promoções direcionadas um fator decisivo para realizar uma compra.
Exemplo de segmentação baseada em IA:
- Consumidores sensíveis a preço: devem receber descontos agressivos para evitar que migrem para a concorrência.
- Compradores frequentes de uma categoria específica: recebem ofertas direcionadas dos seus produtos preferidos.
- Compradores infrequentes: recebem ofertas com uma frequência alinhada com seu histórico de compras.
- Consumidores com preferências de canal de compra: recebem descontos por meio de canais específicos, como e-mail ou App.
- Membros de programas de fidelidade: adquirem vantagens personalizadas baseadas em seu histórico de compras.
Empresas que implementaram esse tipo de segmentação viram um aumento de 1 a 2% nas vendas e uma melhoria de 1 a 3% nas margens de lucro, segundo a pesquisa citada acima.
2. IA na otimização de comunicação e conversões
Algoritmos de machine learning podem prever quais ofertas, mensagens e interações terão maior impacto.
Principais algoritmos usados na economia da intenção:
- Propensão à compra: determina a probabilidade de um consumidor responder a uma promoção.
- Recomendação personalizada: sugere produtos com base no histórico de compras.
- Otimização de tempo de envio: identifica o melhor momento para impactar cada consumidor.
3. Uso de chatbots e assistentes virtuais inteligentes
Grandes modelos de linguagem permitem que chatbots sejam mais persuasivos e façam sugestões sutis baseadas nas intenções do usuário. Exemplo prático: Um chatbot pode perceber que um usuário procura destinos turísticos e sugerir automaticamente ofertas de voos e hotéis antes mesmo que ele realize uma busca ativa.
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Desafios éticos e de privacidade
Embora a economia da intenção ofereça oportunidades de personalização e otimização, ela também apresenta riscos éticos significativos que devem ser cuidadosamente avaliados pelas empresas.
A principal preocupação ética é o potencial de manipulação das decisões dos consumidores. Ao utilizar IA para antecipar intenções futuras, as empresas podem influenciar escolhas de maneira tão sutil que o usuário pode não perceber que está sendo direcionado. Isso levanta questões sobre livre arbítrio e autonomia do consumidor.
Por exemplo, um chatbot persuasivo pode sugerir uma compra baseada em previsões comportamentais, moldando decisões de maneira que o usuário acredite estar agindo por vontade própria.
O relatório da Universidade de Cambridge, já mencionado acima, alerta que LLMs podem cruzar fatores como ritmo de fala, vocabulário e preferências psicológicas para maximizar as chances de conversão, criando experiências altamente personalizadas, porém potencialmente manipuladoras.
Como os LLMs são treinados em grandes volumes de dados históricos, há o risco de perpetuar vieses sociais e discriminação algorítmica. Se um algoritmo aprender que determinados grupos respondem melhor a certos tipos de anúncios ou mensagens, ele pode reforçar estereótipos e excluir minorias de oportunidades econômicas e sociais.
Para mitigar esses riscos, é essencial que as empresas utilizem algoritmos explicáveis e transparentes (Explainable AI), permitindo que tanto os usuários quanto os reguladores compreendam como as decisões estão sendo tomadas.
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Como aplicar a economia da intenção?
Apesar dos riscos, a economia da intenção pode ser utilizada de forma ética e responsável, desde que as empresas adotem práticas transparentes e priorizem a proteção do consumidor.
Uma abordagem ética começa com a transparência total sobre como os dados dos usuários estão sendo coletados, analisados e utilizados. As empresas devem fornecer consentimento informado, explicando claramente quais dados estão sendo usados para prever intenções e como essas previsões impactam as decisões do usuário.
Para garantir a responsabilidade algorítmica, é crucial utilizar Explainable AI, onde as decisões tomadas pela IA possam ser interpretadas e auditadas. Isso não apenas aumenta a confiança do consumidor, mas também ajuda a identificar e corrigir vieses inconscientes que podem levar à discriminação algorítmica.
Além disso, as empresas devem adotar auditorias algorítmicas regulares para verificar a conformidade com as diretrizes éticas e regulamentares, ajustando os modelos conforme necessário para evitar práticas manipuladoras.
Além disso, as empresas devem adotar políticas rigorosas de compartilhamento de dados, garantindo que as informações coletadas não sejam vendidas a terceiros sem o consentimento explícito do usuário.
Para operar de maneira ética e legal, é essencial que as empresas cumpram as regulamentações de privacidade, como a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) no Brasil e o GDPR (Regulamento Geral de Proteção de Dados) na Europa. Isso inclui fornecer mecanismos de opt-out claros e acessíveis para que os usuários possam controlar como suas informações são utilizadas.
Ao adotar essas práticas, as empresas podem aproveitar o potencial da economia da intenção de forma ética e responsável, maximizando resultados sem comprometer a confiança e a privacidade dos consumidores.
A economia da intenção oferece oportunidades inéditas de personalização e engajamento, permitindo que as empresas antecipem e atendam às necessidades dos consumidores com precisão. No entanto, o uso ético e transparente dessa tecnologia é fundamental para garantir a confiança e o respeito à privacidade dos usuários. Ao adotar práticas responsáveis e seguir as regulamentações de privacidade, as empresas podem maximizar resultados e fortalecer o relacionamento com seus clientes.