TI Operacional vs. TI Estratégica: como é na sua empresa?

Por Edison Kalaf*

“Quem aqui está satisfeito com a área de TI de sua empresa?” É assim que costumo iniciar as aulas das minhas turmas de MBA Executivo, na disciplina Tecnologia da Informação (TI) no Insper. Raríssimas vezes alguém, timidamente, levanta e mão. E, em geral, é um gestor ou executivo de TI…

Ou seja, na maioria dos casos, as áreas de negócios estão bastante insatisfeitas com as áreas de TI de suas empresas. E isso ocorre em todos os segmentos de mercado e em organizações de todos os portes. Mesmo reconhecidos fornecedores de tecnologia, que oferecem serviços de grande qualidade para seus clientes, têm sua área de TI muito mal avaliada internamente por seus colaboradores.

Claro, existem exceções. Empresas que já nasceram digitais, por exemplo, têm a área de TI praticamente “dentro” das áreas de negócios. Esse modelo organizacional mitiga grande parte dos problemas, pois estruturalmente já não há uma “departamentalização” entre negócios e TI. Mas esse cenário se apresenta em apenas uma ínfima minoria das empresas no mercado. Para a grande maioria das organizações, há um enorme abismo entre as áreas de negócios e TI.

Como fornecedores, já há muitos anos, de soluções de tecnologia, é comum ouvirmos observações críticas de executivos de empresas sobre suas próprias áreas de TI:

  • “A área de TI não entrega o que promete, sempre atrasa projetos.”
  • “Eles criam projetos caros, desgastantes e que parecem não acabar nunca.”
  • “O pessoal de TI não entende do negócio e das suas necessidades.”
  • “A minha TI tem três velocidades: lenta, muito lenta e parada.”
  • “A área de TI é um ‘buraco sem fundo’ de custos operacionais.”
  • “O pessoal de TI gasta com bobagens e deixa para depois os projetos mais importantes.”

Essa é uma percepção genuína, disseminada e desanimadora entre os “clientes internos” das áreas de TI nas organizações.

Somando-se a isso, há ainda a falta de capacidade organizacional em especificar adequadamente as necessidades sistêmicas nas empresas. Ou seja, as áreas de negócios têm dificuldade em definir o que realmente precisam para gerir suas atividades e a área de TI não consegue extrair com precisão essas necessidades.

Essa situação gera, com o tempo, um ambiente de falta de credibilidade e distanciamento entre as áreas e incentiva a prática de “contornos” aos sistemas da empresa e iniciativas de tecnologia independentes, um fenômeno conhecido como “shadow IT”.

É comum em muitas empresas a contratação e o uso, pelas áreas de negócios, de produtos e serviços de tecnologia sem a aprovação da área de TI. Muitas vezes, sem sequer o conhecimento da área de TI… E isso pode gerar problemas graves de sustentação, segurança, integração e conformidade. Estudos apontam que a “shadow IT” pode criar “pontos cegos” nas políticas de segurança e de sustentação de ambientes de tecnologia das organizações.

Assim, muitos executivos de TI sequer conhecem com precisão os reais gastos com tecnologia da empresa, pois parte significativa está sendo utilizada diretamente pelas áreas de negócios. E sem a devida orientação, suporte e sustentação da área de TI.

O resultado desse cenário é um baixo retorno sobre o investimento em tecnologia nas empresas, caracterizado pela falta de alinhamento estratégico entre os negócios e TI.

Mas a área de TI pode ser estratégica?

No cenário descrito anteriormente, é natural que, na maioria das organizações, a área de TI tenha se “escondido” dos principais elementos estratégicos das empresas e se tornado reativa às necessidades das áreas de negócios. A palavra de ordem é: “abra um chamado no help desk e nós o atenderemos”.

Mas, hoje em dia, as organizações estão expostas a um ambiente de grande competitividade e mudança constante. A tecnologia da informação vem ganhando mais e mais importância e a transformação digital, ou melhor a aceleração digital, é um movimento real que traz grandes oportunidades e desafios.

Nesse contexto, as áreas de TI precisam oferecer:

  • Protagonismo e proatividade para avaliação, adoção, implementação e sustentação de soluções tecnológicas inovadoras para o negócio;

  • A redução do time-to-market para soluções digitais, compatível às atuais necessidades de rápidas mudanças, incluindo novas funcionalidades, aperfeiçoamentos, novas integrações;

  • Uma cultura de agilidade na evolução contínua e no atendimento às necessidades das áreas de negócios;

  • Uma visão sistêmica e operação integrada das soluções existentes;

  • Governança profissional do ambiente de tecnologia;

  • Definição e validação de arquiteturas modernas, robustas e integradas de sistemas e soluções.

Ou seja, foi-se o tempo em que “manter os sistemas funcionando” — uma Área de TI meramente operacional — era suficiente. Hoje, para assegurar a competitividade, é fundamental que, além de manter os ambientes em produção e em segurança, a área de TI seja um agente proativo de otimização e automação de processos e de transformação para novos modelos de negócios e novas formas de monetização para as organizações.

Essa mudança de foco de atuação segue uma lógica:

  1. Ela se inicia com a percepção clara dos principais executivos das empresas sobre o imenso potencial estratégico de TI.

  2. Segue com a identificação, na maioria dos casos, da condição meramente operacional e reativa da área de TI.

  3. E, por fim, se materializa com o planejamento de uma reestruturação da área de TI, especialmente na sua visão executiva, com foco em criação de valor.

Essa mudança exige uma nova mentalidade, uma agenda focada em agilidade e inovação e, especialmente, uma nova atuação dos gestores de tecnologia com foco no negócio e o apoio dos principais executivos da empresa.

Resumindo, um alinhamento da área de TI à estratégia organizacional e uma governança de TI profissional poderão transformar o imenso potencial de TI em valor para as organizações e aumentar sua competitividade.

Sim, a área de TI pode ser estratégica!



*Este artigo foi escrito por Edison Kalaf, sócio-diretor da Opus Software e professor do MBA executivo do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).


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