A metodologia ágil é composta por uma série de práticas, processos, ferramentas e comportamentos que tem como principal objetivo melhorar o andamento dos projetos de desenvolvimento de software.
A transformação digital, acelerada pela pandemia do novo coronavírus, evidenciou a necessidade por agilidade e aproximação com o cliente. Entretanto, como essa mudança também impacta a cultura das empresas, aqueles que estão mais acostumados às metodologias tradicionais podem ficar um pouco receosos ou mesmo se perguntando se os frameworks ágeis realmente cumprem o que prometem.
O que não podemos negar é que mesmo depois de 10 anos de seu surgimento, a metodologia ágil mantém a sua relevância nas organizações, expandindo os horizontes, sendo utilizada até mesmo por equipes de marketing, claro, com as adaptações necessárias.
Além disso, como você vai poder acompanhar nesse post, a metodologia ágil foi fundamental para muitos times que passaram a trabalhar de forma remota em 2020, já que por meio de seus frameworks ela permite que as equipes continuem interagindo e entregando projetos de valor. Você também confere:
- O que é a metodologia ágil?
- Frameworks ágeis
- Metodologia ágil: trabalho remoto
- Como evitar erros na implementação da metodologia ágil
- Por que adotar a metodologia ágil na sua empresa?
O que é a metodologia ágil?
A metodologia ágil foi criada em 2001, por um grupo de desenvolvedores de software americanos, que estavam tentando melhorar os processos tradicionais utilizados no desenvolvimento de software que já naquela época, no final dos anos 1990, não estavam atendendo às necessidades do mercado.
Isso porque, por exemplo, o método Waterfall (ou cascata), muito utilizado na época, não conseguia mais entregar a flexibilidade e a velocidade que o desenvolvimento tecnológico, no auge do surgimento da internet, pedia. Além disso, havia essa necessidade por encontrar meios de adaptar mais os projetos para atender aos desejos dos clientes, sem aumentar as refações.
Abaixo, você confere uma imagem clássica, comumente utilizada para explicar o conceito da metodologia ágil.
Nesse exemplo, a necessidade do cliente é se locomover. Pensando nisso, podemos ver que na primeira linha o cliente não está satisfeito até a fase 5, na qual ele recebe o carro completo. Imagine então, o tempo que levou o desenvolvimento desse veículo e o risco que a equipe assumiu. Afinal, existem grandes chances de o cliente não gostar do resultado final ou pedir alguma mudança, já que ele também não participou do processo de desenvolvimento.
Na segunda linha, já vemos a diferença que o processo ágil traz para o desenvolvimento. Desde a fase 1 o cliente já tem a sua necessidade de se locomover atendida, que é evoluída constantemente. Isso diminui os riscos de que o seu cliente não esteja satisfeito com a entrega realizada, até mesmo porque ele participou do processo e viu a evolução contínua da entrega.
Pensando nisso, de acordo com o Manifesto ágil, criado em 2001, a metodologia ágil é composta por 4 valores. São eles:
- Indivíduos e interações mais que processos e ferramentas;
- Software em funcionamento mais que documentação abrangente;
- Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos;
- Responder a mudanças mais que seguir um plano.
Com esses princípios mente, é possível entender a importância que tem a participação do cliente no processo de desenvolvimento, assim como a agilidade na entrega de valor e a adaptabilidade no processo.
Marcos Mattioli, especialista da consultoria Deloitte e responsável por implementar a agilidade na companhia, em entrevista ao portal da revista Você S/A, destaca ainda que uma das melhores qualidades do ágil é a maleabilidade. “Entre o pedido inicial e a entrega, passava-se tanto tempo que, quando saía do papel, o produto ou serviço já estava defasado em relação aos concorrentes ou às necessidades dos clientes. Ao usar métodos ágeis, com validações mais rápidas e pequenas entregas (os famosos sprints), o ciclo é acelerado e os ajustes são feitos com velocidade. “Não corremos mais o risco de sair do caminho das indicações iniciais. Tentamos mais, erramos mais, corrigimos rápido, aprendemos e entregamos mais”, explica Mattioli sobre os benefícios que as metodologias ágeis trouxeram para a empresa.
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Business Agility Design [Vídeo]
A pandemia do novo coronavírus impactou diversas formas a nossa sociedade e no mundo corporativo não seria diferente. A transformação digital e a necessidade por mais maturidade digital impulsionou diversas empresas a procurar por metodologias ágeis.
No vídeo abaixo, Alexandre Magno, fundador da Emergee comenta sobre os impactos do ágil nas organizações ao longo dos anos, seu processo de expansão e adequação, além de apresentar com detalhes o processo de Business Agility Design.
Magno, ressalta que o agile é uma forma de organização para responder às mudanças e saber lidar com situações inesperadas. Portanto, vai muito além dos processos e frameworks adotados. Além disso, ele apresenta qual o segredo do sucesso por trás de empresas como Amazon e Spotify e como adotar uma estratégia de trabalho ágil criando um modelo adaptado para as necessidades da empresa.
Frameworks ágeis
Os frameworks ágeis foram criados para possibilitar que os conceitos da metodologia ágil possam ser aplicados, de acordo com as necessidades do seu time ou do projeto. Abaixo, você confere uma lista com os principais frameworks:
1. Scrum
O scrum é provavelmente o framework ágil mais conhecido no mundo do desenvolvimento. Em síntese, ele se baseia em ciclos de desenvolvimento sucessivos (normalmente mensais), chamados de sprints.
No início de cada sprint, a equipe se reúne para priorizar as funcionalidades do projeto que estão no product backlog, de acordo com a capacidade de execução do time e define quais funcionalidades serão implementadas naquele ciclo.
Diariamente, a equipe realiza reuniões breves, com o objetivo de informar o andamento das atividades do projeto e identificar impedimentos para o trabalho.
Ao final da sprint, o produto desenvolvido é apresentado para os envolvidos no projeto, com objetivo de coletar feedbacks. A partir daí, a equipe começa a planejar o próximo ciclo, definindo novas prioridades e até mesmo revendo um processo, se necessário.
2. Kanban
O kanban foi criado na década de 60, na Toyota. Basicamente, ele consiste no uso de um quadro branco dividido em colunas, cada uma refletindo uma etapa do fluxo de produção. As colunas eram preenchidas por cartões coloridos, que representam as tarefas, organizadas por ordem de prioridade de execução.
Esse método é considerado um framework ágil justamente por conta da facilidade e rapidez com a qual é possível enxergar os gargalos ou urgências. Inclusive, ele pode ser combinado com outros frameworks, como por exemplo, o scrum, que citamos acima.
Atualmente, ainda mais por conta do aumento do trabalho remoto, existe uma série de kanbans digitais e interativos que, ao que tudo indica, vão acabar substituindo os famosos quadros cheios de post-its.
3. Feature Driven Development (FDD)
Essa metodologia foi criada no final dos anos 1990, quando Jeff De Luca estava trabalhando em um projeto desafiador em um banco. De Luca, em parceria com outros desenvolvedores, criou esse método de desenvolvimento orientado a recursos.
A ideia é se concentrar nos processos, adotar uma abordagem sistemática e simples, para manter no fluxo apenas as etapas realmente necessárias. É composto de 5 princípios básicos:
- Desenvolver um modelo abrangente;
- Construir uma lista de funcionalidades;
- Planejar por funcionalidade;
- Detalhar por funcionalidade;
- Construir por funcionalidade.
4. eXtreme Programming
Também conhecido como XP, esse framework ágil é geralmente adotado para projetos onde há mudanças constantes, o que também é ideal para incluir a presença do seu cliente durante o desenvolvimento. Ele é composto por 5 valores: comunicação, simplicidade, feedback, coragem e respeito.
Os princípios básicos do eXtreme Programming são:
- Feedback rápido;
- Simplicidade;
- Mudanças incrementais;
- Abraçar mudanças;
- Trabalho de qualidade.
5. Nexus
Esse framework foi criado em 2015, com a publicação do Guia do Nexus, por Ken Schwaber, cuja principal ideia é fornecer meios para escalar o scrum, então ele funciona como um esqueleto, que suporta entre 3 e 9 times em um único backlog de produto.
Nesse framework, existe a figura do time de integração, que nada mais são do que os responsáveis por garantir que pelo menos uma funcionalidade seja finalizada em cada sprint. São eles:
- um product owner (PO);
- um scrum master;
- pelo menos um membro de cada time scrum.
Esse time pode ser alterado de acordo com as necessidades do projeto.
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Metodologia ágil: trabalho remoto
A metodologia ágil ganhou cada vez mais espaço nas organizações durante a pandemia, por conta do home office. De acordo com o portal DevOps, o ágil está focado nas pessoas, sejam elas os colaboradores de uma empresa ou os próprios clientes, justamente porque ele dá oportunidade para que as interações sejam valorizadas, possibilitando a troca de conhecimento e de experiência.
Nós sabemos que no trabalho remoto os espaços de troca acabam ficando um pouco mais escassos, tornando a motivação e o engajamento dos colaboradores uma preocupação constante nas empresas, até mesmo para manter esse fluxo de compartilhamento de conhecimento vivo, ainda mais quando falamos de equipes com muitos colaboradores, como é o caso do Banco BV.
Anaterra Oliveira, superintendente de tecnologia do BV, em entrevista ao portal da revista Exame, contou como o uso da metodologia ágil, por meio do uso de kanbans online permitiu que ela acompanhasse o funcionamento de 76 squads simultaneamente, com 99% das pessoas trabalhando de forma remota. “O cronograma de lançamento de produtos da plataforma digital não foi alterado”, diz ela.
Nos últimos 4 meses o BV conseguiu organizar os dados de 1 milhão de clientes para um mutirão de renegociação de prazos de dívidas. Tudo isso foi feito de forma 100% online, por meio de sistemas desenvolvidos pelos squads.
Com isso em mente, não é de se espantar que o interesse do brasileiro em metodologias ágeis aumentou. Para se ter uma ideia, de acordo com essa mesma reportagem do portal da revista Exame, a procura por palestras e eventos promovidos pela Agile Trends, empresa especializada nesse segmento, cresceu consideravelmente. Em 2019, três encontros reuniram 4.000 pessoas, em 2020 apenas um encontro virtual reuniu mais de 15 mil pessoas.
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Como evitar erros na implementação da metodologia ágil
Agora que você já conhece o conceito e a importância da aplicação da metodologia ágil nas empresas, chegou a hora de colocar a mão na massa!
O momento de implementação de uma nova ferramenta ou de uma metodologia, que impacta diretamente na cultura organizacional, acaba levantando uma série de questionamentos e até mesmo inseguranças.
Por isso, antes mesmo de cogitar essa implementação é necessário mapear a organização, para entender quais são as reais necessidades, assim como o comportamento da equipe. Isso permite a criação de pequenas associações de impacto, como por exemplo escolhi adotar a metodologia X nesse projeto Y por conta da necessidade B do cliente.
Além disso, Julian Birkinshaw, professor de estratégia e empreendedorismo na London Business School e diretor do Instituto Deloitte, aponta que um dos principais desafios na implementação de novos sistemas é o comportamento reativo das pessoas. Por isso, é fundamental criar nas equipes uma mentalidade de colaboração, autonomia e responsabilidade.
“Além disso, percebo um desafio secundário: se você for muito bem-sucedido em implementar esse novo modelo de gestão dentro da operação, existe o risco de criar centenas de empreendedores dentro de sua empresa”, aponta Birkinshaw em entrevista ao portal da revista Você S/A.
“Todo grupo gosta da ideia de estar no comando, de ter liberdade, autonomia e oportunidade de fazer diferente. A questão é que, ao mesmo tempo em que você tem pessoas querendo ser autônomas, você possui muitos gerentes que gostam de estar no controle, definindo metas e prazos. E um time ágil adequado define o próprio ritmo e não pode ter como alvo atingir metas. Ou seja, a liderança é um desafio”, completa Birkinshaw.
Assim, a escolha da liderança dessa transformação é fundamental, justamente porque serão necessários ajustes no meio do caminho, por isso é importante já ter em mente que é quase impossível acertar de primeira. Outra dica importante é começar as mudanças com apenas uma equipe ou um squad ágil, assim conforme as implementações forem evoluindo você também vai acumulando conhecimento e experiência.
Apesar dos desafios que apresentamos, de acordo com a professora de gestão de negócios e pessoas no Insper, Luciana Lima, em entrevista ao portal da revista Você S/A, com a consolidação da indústria 4.0 a adoção de metodologias ágeis se tornou irreversível.
Essa mesma reportagem nos apresenta um dado interessa: segundo Fórum Econômico Mundial, dentre as carreiras elencadas na categoria “desenvolvimento de produtos”, 3 deles estão diretamente ligadas ao mundo ágil. São elas:
- Product owner (em primeiro lugar da lista);
- Agile coach (em terceiro);
- Scrum master (em sexto).
“Eles são facilitadores, aproximam pessoas que nunca trabalharam juntas, unindo-as com um objetivo comum e específico”, explica Luciana Lutaif, diretora de práticas e talentos da consultoria Accenture. “Para isso, habilidades socioemocionais — tais como facilidade de trabalhar em equipe, de criar e manter boas relações interpessoais, de escutar e mediar conflitos, entre outras — são essenciais”, continua ela.
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Por que adotar a metodologia ágil na sua empresa?
Agora que nós já exploramos os principais conceitos da metodologia ágil, assim como os desafios de implementação, vamos agora listar quais são os principais benefícios que o ágil pode trazer para a sua organização:
- Transparência no processo: no decorrer do desenvolvimento do software fica claro para todos os envolvidos na equipe qual o status do projeto, quem está responsável por uma determinada tarefa, se há algum impedimento etc.
- Melhora no relacionamento com o cliente: como ele se envolve diretamente no processo, fica mais claro para ele os processos de desenvolvimento, assim como a satisfação com a entrega contínua, tornando o valor do produto desenvolvido ainda mais evidente.
- Melhor visualização dos processos e andamento dos projetos: com o auxílio dos frameworks ágeis é possível ter uma melhor previsibilidade do futuro, seja para entender quando uma equipe vai conseguir pegar um novo projeto ou para oferecer uma expectativa de entrega para o cliente mais assertiva.
- Adaptabilidade: sendo um dos valores da metodologia ágil, essa característica quando incorporada pelas equipes se torna um grande diferencial, afinal, no Mundo VUCA (Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade), no qual as transformações ocorrem com rapidez, a flexibilidade é fundamental.
- Colaboração e autogestão: esses são dois elementos fundamentais para garantir o crescimento e sustentação das empresas, tanto do ponto de vista da saúde e aperfeiçoamento profissional dos membros das equipes quanto do aprimoramento dos processos ágeis.
- Feedbacks constantes: é por meio da análise das críticas e feedbacks que é possível criar melhorias e aprimorar os processos, ainda mais se você estiver passando por um momento de implementação. Por isso, reúna essas informações com periodicidade e incorpore as mudanças necessárias.